* O grande cavaleiro, temível nas batalhas, com sua armadura e escudo indestrutíveis, portando sua violenta espada vorpal (que causa danos astronômicos quando somado ao seu bônus de força), e que está disposto a encarar o Tiamat sozinho para salvar a adorável princesa;
* A adolescente super-popular, que tira ótimas notas e ainda se destaca no vôlei e no handebol, além de receber constantes ligações (no seu novíssimo celular) de metade dos garotos da escola, que vivem correndo atrás dela, babando pela sua beleza espetacular;
* O jovem policial, recém-formado em uma famosa universidade, inteligente e sagaz, com um raciocínio brilhante, que desvenda os mais intrincados mistérios, manejando com precisão sua pistola, com a qual dispara tiros certeiros, que inutilizam os bandidos, promovendo a justiça.
Percebeu algo familiar? Não é para menos. O que descrevi acima são exemplos de personagens de RPG, até comuns em seus respectivos cenários (medieval, colegial, policial). Como todo personagem, eles são criados e interpretados com o melhor do que o jogador for capaz, sendo que muitas vezes, o RPGista coloca neles características que tem ou gostaria de ter.
Isso é natural, pois estamos falando de uma atividade em que o limite é a imaginação. A SUA imaginação, pois o mundo do Role Playing Game é um mundo próprio e subjetivo, no qual as possibilidades são infinitas. Seja narrando ou jogando, neste mundo, é possível ser, fazer, ter o que quiser! É quase algo como: 'Hey! Venha aqui e realize os seus desejos!'.
Essa característica do RPG é fantástica e é um dos motivos pelos quais eu o considero o melhor jogo / hobby que existe. Mas, como tudo o mais na nossa existência, também aqui precisamos de equilíbrio. E aqui quero chamar você, que está lendo este texto, para parar alguns momentos e se dispor a fazer uma reflexão, começando por responder, sinceramente, para si mesmo as seguintes perguntas:
- Quantas horas eu tenho gasto com o RPG por dia / semana / mês?
- Quanto dinheiro eu gastei com o RPG nos últimos meses / anos?
- Quantos e quais convites / oportunidades eu deixei de lado por causa do Role Playing Game?
- Quantos e quais são meus atuais e REAIS amigos / amigas? Quantos e quais deles não conhecem / gostam / jogam RPG?
- Quanto tempo eu tenho me relacionado com pessoas de forma virtual (internet)? E de forma real?
- Quantas e quais pessoas já me criticaram por causa do tempo que passo com o RPG? Quantas vezes? Com que freqüência?
Onde estou querendo chegar com tudo isso? Quero apenas sinalizar um alerta. Como amante do nosso incomparável hobby, busco promovê-lo, divulgá-lo e valorizá-lo. E isso inclui zelar pelo bem-estar da 'matéria-prima' principal do RPG: os RPGistas!
Um estado em que o impulso / vontade / desejo de estar conectado passa a ser quase incontrolável, em que se abre mão de aspectos importantes da vida (família, amigos, estudos, trabalho) e que, mesmo diante de prejuízos e conseqüências danosas, persiste-se em continuar a jogar, pode preencher os critérios para o diagnóstico de 'Jogo Patológico', uma doença mental classificada na Psiquiatria.
É claro que esse é um transtorno bem específico, e não é só porque sua mãe já não sabe o que fazer para te tirar da frente do micro e te fazer arrumar sua cama, que você já está diagnosticado como louco e precisa ser internado. Calma lá! Não é isso que estou dizendo...
No entanto, alguns comportamentos, bem mais leves que os de um transtorno psicopatológico, podem já ser indicadores de problemas, atuais e futuros. O RPG, com suas infinitas possibilidades de fantasia / imaginação, pode acabar sendo usado como um meio de fugir da realidade. Realidade que para muitos de nós é bem menos agradável do que as possibilidades que temos em uma sessão de Role Playing. Mas adotar uma postura de ficar apenas se esquivando dos conflitos que temos, não vai melhorar em nada nossas situações difíceis, muito menos fazer desaparecer magicamente esses conflitos. O ser humano é complexo e multifacetado e precisa dar conta dos muitos aspectos da vida que tem.
As críticas do pai, as reclamações da mãe, o desprezo ou zombaria dos colegas de escola. As frustrações de não conseguir boas notas naquela matéria complicada, de não ter aprovação naquele teste importante, de não conseguir ser aceito no time da sala / bairro, de não ter atenção daquela (e) garota (o) que te tira o fôlego. Todos esses são exemplos de situações frustrantes, mas que são inerentes ao existir humano, e que precisam ser tratadas de uma forma melhor do que se trancar no quarto e se 'teletransportar' para dentro do RPG, para o seu particular 'Mundo da Lua'.
Até porque, além dessa atitude ser prejudicial para você mesmo, é ruim também para a comunidade RPGística em geral, pois, dessa forma, você estará reforçando o estereótipo que diz que rpgista é louco, alienado, viciado, compulsivo, etc.
Sabemos que esse estereótipo é produto de preconceito, e que esse já foi muito pior antes do que é hoje, graças ao trabalho sério de muitas pessoas no Brasil, que estão buscando e conseguindo 'limpar a imagem' do nosso hobby. E a maioria de nós, inclusive este meu/outros Blog's, muitas vezes se levantam para nos defender, falando acerca dos pontos positivos do RPG, das habilidades que podem ser estimuladas nele, tais como: criatividade, sociabilidade, interatividade, cooperação, entre outras.
Mas tudo isso, todas essas vantagens, só têm sentido se usadas na vida real! Essas habilidades que podem ser estimuladas, potencializadas, desenvolvidas, são para uso prático no seu cotidiano real, com as pessoas reais, que fazem parte do seu mundo real! Ou seja, chamar seus pais para aquela boa conversa (com o respeito e submissão que lhe são devidos), enfrentar aqueles colegas que estão te perturbando e encarar as frustrações como elas são: parte integrante e indissociável da vida humana. Seja com disposição para se reerguer e fazer mais uma tentativa ou com a consciência de que não vale mais a pena insistir, mas sempre lidando da forma mais real e sincera possível, com você mesmo e com os outros.
UIma amiga certa vez escreveu uma frase que pode ser aplicada aqui para concluirmos essa matéria: '... a vida inspira a arte, mas esta, o máximo que consegue, é imitar a vida...'.
Não me considero pretensioso ao afirmar que o RPG é também uma forma de arte. No entanto, ele é inspirado / baseado / fantasiado à partir do maior e mais fantástico cenário / sistema existente, criado por ninguém menos que o próprio Deus: a nossa vida!
E essa campanha, que é sem dúvida a maior que você poderá jogar, como qualquer outra, vai exigir de você dedicação, esforço, responsabilidade e o melhor manejo que puder das suas qualidades e defeitos, vantagens e desvantagens.
E então? Está disposto a encarar essa aventura??
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